Escala para a medição de nível tecnológico adotada amplamente pela indústria para reduzir a incerteza em projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P,D&I)
Na década de 1990, a agência espacial estadunidense (NASA) adotou a metodologia Technology Readiness Level (TRL) para guiar o planejamento de programas de pesquisa dedicados ao desenvolvimento de novas tecnologias. O alto custo de tais projetos, somado ao alto grau de risco e prazos longos, tornou necessária uma classificação para determinar o andamento dessas operações. Mais tarde, a escala foi amplamente adotada pela indústria com o mesmo objetivo: alinhar o orçamento comprometido e os recursos mobilizados à maturidade tecnológica.
O sucesso da aplicação do TRL dentro da NASA foi tamanho que outros segmentos da indústria passaram a adotá-lo. Originalmente, a escala havia sido aplicada dentro de uma empresa do ramo aeroespacial, porém, em função do alto grau de complexidade dos projetos da agência, outros segmentos industriais – como têxtil, automobilístico, energético etc. – perceberam que a escala poderia funcionar para suas realidades se fosse submetida a algumas adaptações.
A adoção de uma só metodologia para medir a maturidade tecnológica também trouxe uma facilidade extra para o mercado: um sistema de classificação homogêneo, que pode ser replicado e compreendido em qualquer lugar do mundo. Foi a padronização da classificação de tecnologias inovadoras que permitiu a disseminação do TRL em âmbito internacional.
Ademais, a uniformização do TRL permite que pesquisadores, investidores e industriais de diferentes partes do globo conversem sobre uma mesma base. Assim, o sistema saiu dos laboratórios norte-americanos na década de 1990 e se disseminou para Europa, América Latina, Oriente e África até os dias atuais.
Outro benefício do sistema de maturidade para as empresas foi o gerenciamento de riscos. Projetos de inovação costumam mobilizar grandes aportes financeiros e mão de obra altamente qualificada. Empregar esses recursos em um projeto que falha em sair do papel para a linha de produção com qualidade pode significar a falência de uma indústria. Como ocorreu com a produtora japonesa de autopeças, Takata, que lançou no mercado em 2016 100 milhões de airbags defeituosos. A falha no produto resultou em 29 mortes e 320 feridos pelo mundo, e a empresa declarou falência um ano após a realização de um dos maiores recalls da história.
A relevância do TRL existe, portanto, em uma dimensão técnica e econômica. “Alinhar o amadurecimento de uma tecnologia aos objetivos de longo prazo de uma empresa é uma forma estratégica de desenvolver a competitividade de uma indústria”, explica a especialista em TRL, Paola Bertolo.
Projetos corretamente avaliados pela escala tendem a garantir um bom desempenho no momento em que saem do laboratório para as fábricas e, depois, para as mãos do consumidor. De forma complementar, a boa gestão dos custos desse projeto, alinhada aos objetivos de uma empresa, significa industriais com lucros mais altos e produtos de maior qualidade.
Quando uma tecnologia está no TRL 1, uma pesquisa científica está no início do estudo de conceitos básicos que precisam ser publicados para viabilizar futuras pesquisas sobre o assunto.
O TRL 2 ocorre quando esses conceitos foram estudados e aplicações práticas podem ser feitas a partir dos resultados iniciais. Nesses dois primeiros estágios, a tecnologia ainda é muito teórica e especulativa.
Quando a pesquisa e o design começam, a tecnologia passa para o TRL 3. Estudos analíticos e testes laboratoriais são necessários nessa etapa para medir a viabilidade do projeto. Geralmente, o TRL 3 termina com um modelo construído para a prova de conceito.
Já no TRL 4, os vários componentes de uma tecnologia são testados em conjunto. O TRL 5 é uma continuação do 4, no qual a tecnologia é encarada como uma “placa de ensaio” pronta para ser submetida a testes mais rigorosos. Nessa etapa, as testagens são conduzidas em ambientes que se assemelham ao máximo à realidade onde a tecnologia vai operar. Uma vez completa, o projeto avança para o TRL 6, no qual a tecnologia amadurece para um protótipo totalmente funcional.
O TRL 7 requer a demonstração do protótipo funcional em ambiente relevante. Já o TRL 8 indica que a tecnologia foi testada e qualificada, estando pronta para implementação. Por fim, a tecnologia que foi incorporada com sucesso e está operacional pode ser chamada de TRL 9.
Os TRL intermediários, de 4 a 6, são chamados por investidores e empresas de tecnologia de “vale da morte”. Nessas etapas, muitos projetos acabam falhando e se tornando inviáveis. Essa dificuldade é particularmente relevante para o caso das startups, que acabam recebendo um menor ciclo de investimento, se não conseguem atravessar esses níveis de maturidade tecnológica.
O contrário também é verdade, startups que se mostram eficientes em avançar os níveis do TRL chamam a atenção de aceleradoras e investidores. A boa execução do projeto até chegar ao protótipo final acaba por ser fundamental tanto para startups como para indústrias já estabelecidas.
Como vimos anteriormente, no caso das indústrias, uma má avaliação do nível de maturidade pode resultar em produtos de baixa qualidade, com recalls e desvalorização do valor de mercado da empresa.
“O vale da morte é esse momento em que os projetos precisam de um alto aporte de investimento com um risco elevado”, explica o coordenador do Instituto SENAI de Inovação em Sistemas de Manufatura, Ismael José Secco. Quando se fala em ciclo de vida de um projeto, os testes laboratoriais iniciais (TRL 4) e a testagem em ambiente relevante (TRL 6) são justamente os momentos mais dispendiosos.
Quando se fala de desenvolvimento de uma nova tecnologia, estamos falando de um grande desafio para uma indústria, com pontos críticos para o gerenciamento do projeto, como o escopo, o cronograma e os custos.
O “vale da morte” é um nome que assusta justamente por fazer referência aos altos riscos que as empresas correm ao encarar as dificuldades de inovar. Os Institutos SENAI trabalham exatamente com os níveis de maturidade intermediários, que são os momentos de maior risco para as indústrias.
O trabalho da equipe de pesquisadores e técnicos do SENAI vai de encontro às necessidades das empresas de evitar o desperdício de recursos e esforços. O TRL é, sobretudo, uma forma de identificar onde está a maior incerteza de um projeto, buscando mais eficiência no momento certo para que a inovação seja concluída.
“Com nosso trabalho, é possível mostrar às indústrias se uma tecnologia é viável”, conta Ismael Secco.
O conhecimento técnico é sem dúvida um desafio para qualquer empresa, assim como os altos custos do desenvolvimento tecnológico. Nesse sentido, os Institutos SENAI agem nas duas frentes ao conectar as indústrias às fontes de fomento.
Dessa forma, o aporte financeiro que uma indústria precisa para investir em inovação é reduzido com a entrada de um terceiro ator que diminui o risco de toda a operação. Acompanhe o vídeo com os nossos especialistas: